Experiências de Ensino à Distância em Tempos de Pandemia
Sem anúncio ou pré-aviso, a contenção da propagação do SARS-COVID2 ditou o encerramento generalizado das escolas. Professores, sem nenhuma experiência prévia de ensino à distância, outros com muito pouca, e uma minoria com know-how acumulado em percursos solitários, mas todos com o propósito de “não deixar parar a escola”, rapidamente procuraram informação, formação, partilha de saberes e experiências para responder ao maior desafio da escola Portuguesa neste século: ensinar não presencialmente. Os dados indicam que nada será como antes. O ensino remoto de emergência veio democratizar o uso das ferramentas de E@D e estas, se depender dos professores, passarão a ser ubíquas no dia a dia da escola post-pandemia!
No âmbito da missão que presidiu à criação do grupo – partilhar experiências e ensinamentos no uso das ferramentas do E@D – conhecer as experiências e as práticas dos professores é fundamental para poder “ajudar”. Assim, o grupo lança regularmente estudos com o objetivo de conhecer melhor o que os professores faziam, fazem, e pensam fazer com as tecnologias e recursos do ensino à distância.
Naturalmente, com o fecho das escolas, o ensino à distância foi a solução encontrada pelos professores, ainda antes de diretivas da tutela nesse sentido, para não abortar o ano letivo em curso. Daí que o primeiro levantamento, que este estudo pretendeu fazer, foi perceber com que frequência os professores utilizavam as tecnologias da E@D nas suas práticas letivas. Mais de 4000 professores responderam a um questionário online disponibilizado entre 5 e 25 de junho de 2020 que inquiriu sobre as experiências do ensino remoto em tempos de pandemia (ver a ficha técnica do estudo aqui).
Sobre a utilização das ferramentes do E@D
A figura 1 ilustra a frequência de uso de ferramentas do E@D pelos professores, na sala de aula, antes da pandemia. A utilização do email e das apps de chat era ubíqua entre os professores. Contudo, 35% nunca tinha utilizado uma plataforma de gestão de ensino (Moodle, Google Classrooms, MS Teams, etc…), 46% nunca utilizou software/apps de avaliação digital (Moodle Quiz, Quizlet, QuizMaker, etc…), e 64% referiu nunca ter utilizado software/apps de aulas online (p.e. Zoom, Google Meet, MS Teams,…).
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Naturalmente, a necessidade aguça o engenho e, durante a pandemia, a frequência de uso das ferramentas da E@D, evoluiu consideravelmente (ver figura 2). Apenas 19% dos mais de 4000 professores que responderam ao inquérito referiu não usar plataformas de gestão de ensino online, 3% referiu não usar software/apps de aulas online e 11% continuou a não usar o software/apps de avaliação digital. O salto quantitativo na utilização das ferramentas do E@D do “antes” para o “durante” a pandemia é indiscutível.
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Mas, talvez, o uso das ferramentas do E@D em sala de aula seja uma “moda” passageira, motivada pela inevitabilidade do confinamento e do fecho das escolas. Quisemos saber o que pensam os professores sobre a utilização destas ferramentas num futuro próximo. A figura 3 ilustra a frequência com que os professores pensam utilizar estas ferramentas na sala de aula post-pandemia. Mais de três em cada quatro professores referiu que pensa usar “uma ou mais vezes por mês” as ferramentas da E@D, do simples email à avaliação em formato digital!
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A larga maioria dos professores não revelou grandes dificuldades na utilização das ferramentas do E@D. Apenas um em cada dez inquiridos referiu ser “difícil” usar software/apps de aulas online, plataformas de gestão de ensino e avaliação digital (ver figura 4).
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E, como ilustra a figura 5, mais de três em cada quatro professores referiu ser autodidata na utilização das ferramentas do E@D.
Sobre a formação e a prática profissional
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Um em cada dois professores referiu ter recorrido a redes informais de apoio (colegas de escola, familiares e amigos, grupos de apoio/fóruns online,….) para esclarecer dúvidas sobre a utilização das ferramentas de E@D (ver Figura 6). Pelo contrário, pelo menos 3 em cada 4 professores referiu nunca ou quase nunca ter recorrido a apoio de redes formais (coordenadores de TIC, serviços técnicos especializados).
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Questionámos, ainda, em que medida os professores conseguiram realizar a sua atividade profissional e balancear a vida profissional e pessoal durante o confinamento. Apenas um em cada dez professores referiu ter dificuldades em dominar as ferramentas que teve de usar nas aulas, ter acesso a recursos (software e hardware) para lecionar online e avaliar os alunos (ver figura 7). Contudo, mais de metade dos respondentes referiu ter tido dificuldade em cumprir as tarefas relacionadas com o ensino à distância, bem como balancear a vida profissional e familiar durante o confinamento.
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Quando questionados sobre a proficiência dos seus alunos, os professores referiram que entre 2/3 e 3/4 desses foram proeficientes no uso das tecnologias do ensino à distância (ver figura 7).
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O que pensam os professores sobre o ensino à distância?
Quando questionados sobre o ensino à distância, cerca de metade dos professores é de opinião que o ensino à distância só deve ser usado em emergência e para consolidar conhecimentos e competências (ver figura 8). A percentagem de professores que considera que o ensino à distância é menos eficaz na transmissão de novos conhecimentos, na avaliação das aprendizagens e na eficiência das aulas supera em quase 3:1 os que acham o contrário. Na opinião de três em cada quatro professores, nem os alunos, nem os professores preferem as aulas online. Sendo que mais de 80% dos professores é de opinião que nem as famílias, nem as escolas têm recursos suficientes (computadores, softwares, acesso à Internet,…) para o ensino online.
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E no futuro post-pandemia?
Depois da pandemia, se tivessem oportunidade, i. e., se os recursos necessários existissem, 91% dos professores respondeu que seria algo ou muito provável (cerca de dois terços) desenvolver atividades em sala de aula com recurso a software e apps educacionais (ver figura 9). Mais de três em cada quatro professores refere que será algo ou muito provável usar manuais digitais, TPC usando software/apps educacionais, comunicar via email com os alunos e realizar avaliações formativas online. Contudo, apenas um em cada dois referiu ser algo ou muito provável usar apps de comunicação online com os alunos, ou realizar avaliações sumativas.
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Em suma…
Os resultados apresentados neste estudo demonstram que, antes da pandemia, o recurso às ferramentas do E@D não era comum nas salas de aulas portuguesas. Contudo, o confinamento imposto à sociedade com o fecho generalizado das escolas, levou a classe docente a organizar-se e a procurar soluções, no muito curto-prazo, para continuar a ensinar, recorrendo aquilo que pode ser descrito como ensino remoto de emergência. Os dados demonstram que a maioria dos professores conseguiu autoformar-se e utilizar de forma competente as ferramentas do E@D. Talvez, ainda mais relevante, seja o facto de também a maioria dos professores amostrados, referir que, se as condições existirem, irá continuar a usar as ferramentas do E@D mesmo num cenário de ensino presencial(*). O maior desafio da escola portuguesa deste século terá motivado a maior e mais rápida mudança nas metodologias e práticas de ensino alguma vez observada por cá? O futuro o dirá.
Notas
(*) É de referir que a larga maioria dos professores amostrados faz parte do grupo de facebook “e-learning- Apoio” e que respondeu ao questionário num formato online. É extremamente provável que os professores com menor literacia digital ou infoexcluídos não estejam minimamente representados na amostra. Ainda que estes possam ser uma minoria, uma escola inclusiva, como a nossa, não pode deixar ninguém para trás.
Ficha técnica do estudo disponível aqui
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