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Vimos um pouco, por toda a parte, uma corrida aos testes escritos. Sobretudo para verificar se os alunos (esses malandros!) foram honestos durante o confinamento. «Agora é que vamos ver se foram eles ou se foram os pais e explicadores a fazerem os testes e os trabalhos, durante o confinamento!», pensaram alguns, contentes por poderem satisfazer as suas mais profundas necessidades de consolidar desconfianças.

Dei por mim a pensar:

– Se foram os pais a ajudar, os alunos não só aprenderam como reforçaram a relação com os pais (a união faz a força!);

– Se foram os explicadores a ajudar, os alunos aprenderam certamente (e descobriram se o explicador compensa o valor/hora que recebe);

– Se os alunos recorreram à pesquisa e tiveram sucesso, aprenderam os conteúdos, descobriram sites credíveis e melhoraram a sua capacidade de pesquisa;

– Se os alunos fizeram tudo sozinhos, como é o caso do meu filho, podem ter tido classificações abaixo de outros que tiveram ajuda, contudo, aprenderam os conteúdos e a serem autónomos, mesmo que tenham ficado em desvantagem em relação aos que tiveram «fermento».

Ora, o que há de comum nestas quatro situações? O aprender! Em todas elas os alunos APRENDERAM!

Não era o que se pretendia?

Em algumas situações podem não ter sido honestos, mas isso já são valores que devem ser incutidos, desde tenra idade, no seio familiar.

Mas a questão da honestidade é também ela discutível!

Quantos de nós, em situação semelhante, não recorreram a uma pequena ajuda caso nos faltasse aquela palavra, aquele sinónimo, para que a resposta ficasse mais completa? Quantos de nós não recorreram a uma pequena ajuda para que a resposta fosse mais clara e correta?

Será isso desonestidade?

Ou será construção de conhecimento e aprendizagem?

Vou incluir aqui uma última condição. A quinta condição é:

– O teste e/ou os trabalhos foram realizados pelo explicador/pais?

Nesse caso temos um grande problema social, que se chama «crise de valores»! Estamos na presença de um certo niilismo.

Mas, esmiuçando um pouco mais esta questão da avaliação online, neste caso a avaliação à distância, o que considero ser o verdadeiro problema, o centro da questão, é mesmo a transposição de um modelo presencial para um modelo à distância (online) sem as devidas adaptações necessárias. Um problema que tem a ver com as técnicas de construção de um teste e com aquilo que deve ser uma avaliação em regime presencial versus aquilo que deve ser a avaliação num regime à distância.

Não tenhamos ilusões!

Não faz sentido, não é correto e não é justa esta transposição em que a única adaptação é passarmos a ter os instrumentos digitalizados.

A uma modalidade diferente de ensino devem corresponder modalidades diferentes da relação pedagógica. Desde a comunicação, às metodologias e, como é claro, à avaliação. 

A ocasião faz o ladrão.

Se queremos que algo não aconteça, talvez devamos começar pela prevenção, pela «profilaxia do copianço sem aprendizanço».

Se propomos, como recurso de avaliação (para a aprendizagem) um trabalho assente em estratégias de autorregulação, um trabalho diferenciado, de acordo com as motivações de cada um dos nossos alunos, um trabalho que requer um olhar individual, então, cada trabalho vai ser único – personalizado. Vai ser exclusivamente daquele aluno!

Conhecendo nós os nossos alunos, saberemos que aquelas são as palavras dele, aquelas são as ideias dele, porque o acompanhámos ao longo do percurso. Porque o direcionámos e sabemos como o direcionámos – aí não temos dúvidas de quem produziu as aprendizagens.

Mas como diz o professor Domingos Fernandes, não devemos ter uma só «fotografia» (instrumento) senão temos uma só perspetiva sobre as aprendizagens daquele aluno. Devemos ter várias fotografias para que vejamos mais pontos de vista e não apenas um.

Existem muitas formas de avaliar os nossos alunos, com recurso a blogues, páginas, portfólios, questionários, fóruns. Com apenas uma pergunta conseguimos fazer momentos de avaliação formativa, ou seja, avaliamos para melhores aprendizagens, com apenas uma pergunta conseguimos perceber como está o aluno de acordo com o referencial de chegada.

E em momentos sumativos, em que necessitemos de traduzir esse trabalho em algo mais terminal, assim o faremos! Tal como se precisarmos de «converter» esse trabalho numa classificação, também o sabemos fazer!

O que considero mesmo MUITO errado é receber os alunos, no primeiro dia/semana de aulas, após o confinamento, com um tapete de boas-vindas chamado teste escrito.

Se, por um lado, passamos a mensagem de que todos são «malandros», que não confiamos neles, por outro, passamos a mensagem de que, no meio disto tudo, o mais importante são os testes escritos. A mensagem de que os testes escritos são o instrumento privilegiado, o mais objetivo, rigoroso e fiável de todos os instrumentos para avaliar as aprendizagens, é voltarmos à industrialização – o teste que mede com rigor o que o aluno sabe, um teste igual para todos, um teste incapaz de medir as diferenças e capacidades de cada um.

Por outro lado, a mensagem passada é a de que não nos preocupamos, de facto, com os alunos e que o nosso grande papel na Escola é avaliar. E isto não causa empatia, a primeira coisa a desenvolver com os alunos para que o sucesso das aprendizagens seja quase que garantido. Todos gostamos de sentir que alguém se preocupa connosco. E sabemos que temos casos em que o apoio do professor, o apoio da Escola, é determinante para o bem-estar psicológico do aluno.

Não devemos, antes, receber os nossos alunos perguntando como estão? Como foi o confinamento? Partilhar experiências? Conversar, conviver, socializar com alguém que não está connosco há tanto tempo deveria ser o tapete de boas-vindas e não o teste escrito.

Receber os alunos com testes (escritos ou não), neste contexto, é como um professor voltar à sua escola e ninguém lhe perguntar se está bem! Se correu tudo bem. Quantos de nós gostariam de voltar à Escola sem que nos perguntassem como estamos e, de repente, nos caísse em cima da mesa um teste para verificar se cumprimos bem o nosso papel de professores durante o confinamento?

Avalie-se mais e classifique-se menos, com o li há tempos no Blog de Arlindo. As ferramentas digitais facilitam e os alunos agradecem. Pelo bem das aprendizagens.

#somossolução

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